Segurar pela mão, para não deixar cair
No evento de abertura dos trabalhos da ALPL deste ano, Edinei iniciou com uma leitura
sobre os caminhos, os motivos de nosso grupo ter eleito o tema da angústia como eixo de
2020, o que para mim foi muito interessante, pois, não pude estar presente na reunião de
definição do tema. Se me recordo, razoavelmente bem, ele identificou que a partir de uma
certa prevalência no grupo para o estudo do conceito de gozo ou para o trabalho com os
registros e a cadeia borromeana (RSI), ambos a partir de questões suscitadas pelo tema
do ano anterior (corpo e sintoma), a angústia emergiu como uma possibilidade de
contemplar os dois campos de estudo e, claro, como uma via interessante para a reflexão
e discussão de inumeráveis questões clínicas. Questões clínicas, seja no tocante à
estrutura do sujeito, às manifestações clínicas, às posições subjetivas, ao manejo
transferencial ou às articulações e efeitos do nosso tempo sobre o sujeito e a prática
clínica. Questões que, na realidade, nos ocupam sempre, todo o tempo, ainda que com
enfoques diferentes, seja lá qual for a temática conceitual em foco.
Bem, menos de um mês após estarmos todos juntos no referido evento, ouvindo e
dialogando, o Real encarnado na pandemia, que já se impunha ao redor do mundo, não
só bateu forte em nossa porta, ele a arrombou e entrou com tudo, sem pedir licença, como,
aliás, lhe é de costume. Assim, lamentavelmente, o tema da angústia se contextualizou,
ainda mais, num para além das motivações de nosso grupo e ganhou força, atualidade e
adequação também maiores, inquestionáveis e prementes. Neste momento, não há como
não nos debruçarmos sobre essa temática e todas as suas possíveis articulações. Inclusive,
a temática do corpo estudada no ano passado e já base para a escolha do tema atual se
atualiza e potencializa para o trabalho nesse momento onde vivemos um isolamento
global dos corpos, momento paradoxal em que o corpo escancaradamente frágil é também
um potencial disseminador da morte. Nos isolamos para não morrer e para não matar.
Como isso pode não angustiar alguém?
1 Texto produzido para ser apresentado e debatido no Fórum da ALPL de 30/03/20 (o que não ocorreu
dado as medidas sanitárias na pandemia)
Ironia do destino? Acaso? Premonição? Recorrer ao imaginário e fazer uso dessas ou de
outras tantas explicações, não apenas para um suposto “acerto” na escolha antecipada do
tema, mas também para produzir algum sentido à loucura que estamos vivendo, faz parte
e é mesmo necessário para lidarmos com o sempre avassalador Real. Necessário, mas,
não suficiente. Para além de uma cobertura imaginária, a psicanálise nos convida a algo
mais. O convite é para lermos a nossa ex-istência como marcada por uma perda originária
e estrutural introduzida pela linguagem e, inexoravelmente, sofrendo os efeitos das três
dimensões: real, simbólico e imaginário. Dessa forma, a psicanálise demarca uma
diferença, tanto do ser, da criatura heterônoma fruto da religião, quanto do homem da
ciência, orgânico e autônomo, capaz de dominar o universo. Assim, nasce o conceito de
sujeito, marcado pela castração na origem, submetido aos efeitos das três dimensões que
passam a operar em sua ex-sistência mas, também, sempre responsável por sua posição.
Vejam, é um convite que, paradoxalmente, não nos poupa, eticamente, da angústia, pois,
responder por nossa posição também convoca angústia.
Resumindo, a angústia está na origem e na estrutura do conceito de sujeito. Edinei
trabalhou sobre isso em sua intervenção, retomando o quadro da divisão do sujeito e nos
indicando que dois conceitos ganham centralidade no Seminário 10 (Lacan, 2005),
através do trabalho com a angústia: o objeto a como causa do desejo e o desejo do Outro.
Infelizmente, não estava presente na apresentação da Marina, inaugurando o Seminário
de Fundamentos deste ano, mas imagino que ela também deva ter tratado disso para
desdobrar o aforisma tema do encontro: “a angústia não é sem objeto”. Quero ainda
sublinhar e mais à frente comentar um pouco mais, a expressão citada por Edinei na
conferência inaugural, a partir do trabalho com o quadro apresentado no Seminário 10,
onde Lacan (2005) situa inibição, sintoma e angústia e suas articulações: a angústia está
no horizonte do trabalho analítico.
Muito bem, a angústia está na origem e na estrutura do conceito de sujeito e assim se
articula ao objeto a e ao desejo do Outro (não se reduzindo, portanto, ao campo
fenomênico) e, ainda, está no horizonte da clínica psicanalítica. Mas, como vocês sabem,
a angústia também é um afeto e como tal é experimentado, vivido na experiência e,
portanto, é um conceito que mesmo não se reduzindo ao campo fenomênico, comunga
com ele. Aliás, é um afeto experimentado a qualquer tempo ou lugar, a angústia não
espera a análise para se manifestar como fenômeno na experiência, embora esteja no
horizonte do tratamento e possa surgir como fruto do trabalho. Muitas vezes, inclusive, é
esse afeto que leva alguém à análise e, nesses casos, ele está no início de uma psicanálise
e não apenas em seu horizonte. E, mais, não é um afeto qualquer, equiparável a outros, é
um afeto que ganha com Lacan um estatuto singular pelo fato de ser o único que não
engana o eu (diferentemente dos demais, como, por exemplo, o amor ou a culpa), não
engana o eu por ser um sinal do encontro com o real e a única tradução subjetiva (afeto)
do objeto a. “O que é buscado é, no Outro, a resposta à queda essencial do sujeito em sua
miséria suprema, e essa resposta é a angústia” (Lacan, 2005, p.182 – 6/3/63), expressão
fortíssima associando a angústia à essa experiência do encontro com o desejo do Outro e
também ao encontro com o objeto a sem as vestimentas do fantasma, angústia como a
tradução subjetiva (afeto) desse encontro.
Entretanto, embora a angústia possa ser vivenciada fora do dispositivo analítico, digamos,
na cena do mundo e não apenas da cena analítica, digo que como analistas nos ocupamos
prioritariamente daquela produzida em intensão e que se faz presente na estrutura e pela
estrutura (horizonte) do trabalho analítico. O que não invalida, de forma alguma, a
possibilidade e o interesse no trabalho, na investigação da angústia em extensão, ou seja,
na cena do mundo. Por exemplo: a angústia que estamos vivendo agora com a pandemia
nos mais diversos sentidos (isolamento dos corpos, medo da morte, consequências
econômicas e sociais), a angústia junto aos fenômenos socias e políticos (violência
urbana, governança, catástrofes naturais), a angústia frente à criação (inibição ao escrever,
criação artística). Um trabalho da psicanálise em extensão pode e deve se ocupar de
produzir uma leitura, de produzir teoria, de produzir um discurso que dialogue com
outros, a respeito da angústia atrelada e experimentada nessas circunstâncias. Até porque,
a cena analítica não está isolada e protegida da cena do mundo. Não vivemos numa bolha.
A cena do mundo chega à cena analítica junto com nossos analisantes e também conosco,
analistas. É o que eu enfatizava a pouco a respeito da atualização e potencialização de
questões também clínicas sobre o tema da angústia na pandemia.
Mas, acredito ser de extrema importância diferenciarmos e demarcarmos essas duas
instâncias (a intensão e a extensão) e avalio que a intensão ganha uma dimensão
prioritária para quem se dedica a conduzir análises. Não se trata de uma gradação de
importância, de uma valoração da intensão contra a extensão. Trata-se, apenas, de
responsabilidade, de ética, pois, uma vez abraçada a posição de analista, uma vez que as
portas de nossos consultórios estão abertas, entendo ser nosso dever a disponibilidade ao
trabalho. Para mim, disponibilidade ao trabalho clínico significa a máxima dedicação às
demandas que acolho, à escuta e, portanto, à atenção e investigação de todos os elementos
presentes na transferência e na direção da cura. E isso dá muito, muito trabalho e consome
muito tempo e energia. Como uma das marcas inexoráveis de uma análise é o óbvio fato
de que não dá para abraçar o mundo, escolhas precisam ser feitas. Assim, entendo que a
angústia que comunga com o dispositivo analítico, aquela que participa da estrutura do
dispositivo e que também é vivida na experiência do sujeito em análise como afeto, é
prioritária para o analista. Então, vamos à ela, à angústia em intensão, mais
especificamente, procurando desenvolver alguns pontos já mencionados acima e também
avançar em outros.
Observem, enfatizo que a angústia está na origem e na estrutura do conceito de sujeito (e,
assim, se articula ao objeto a e ao desejo do Outro) e quando dizemos que ela está no
horizonte da clínica psicanalítica, significa que ela também está associada à estrutura do
dispositivo analítico (veremos isso mais detalhadamente). E ainda, sem nunca perder de
vista, a angústia é um afeto, afeto muito particular. No que tange ao trabalho analítico, a
angústia é, além de particular, um afeto paradoxal, na mesma direção que é paradoxal a
transferência, ou seja, a angústia é tanto condição quanto obstáculo para a análise.
Condição exatamente por ser esse afeto puro, não enganador, sinal de que o sujeito está
se deparando com questões essenciais à análise: o objeto a e o desejo do Outro. Por isso
dizemos comumente: sem angústia não há análise. Quando temos uma pessoa à nossa
frente, em entrevistas iniciais, que a despeito de nos ter procurado, o que pressupõe a
existência de algum sofrimento e o desejo de mudança, se apresenta ainda de certa forma
indiferente ao que fala e/ou aos nossos questionamentos, ou mesmo alguém que já iniciou
sua análise, que está no divã e que em determinados períodos não se deixa tocar, afetar
pela associação livre e seus desdobramentos, sabemos que temos que ser pacientes e
procurar operar com o máximo de rigor para que o dispositivo analítico funcione em sua
máxima potência e, com isso, a angústia se produza e com ela impulsione o trabalho e
alcance as questões essenciais à análise.
Quero sublinhar que não se trata de o analista induzir ou gerar angústia através de suas
intervenções ou manejo da transferência e, sim, de favorecer, desde o seu lugar e o desejo
do analista, o bom andamento do dispositivo para que a angústia possa advir. Sim, o bom
andamento do dispositivo para que a angústia possa advir, pois, desdobrando o que
indiquei acima, o dispositivo analítico tem por estrutura um funcionamento que convoca
a angústia. A simples presença do analista, desde que haja transferência, pois só assim há
analista, já é suficiente para que o analisante o coloque no lugar do Outro que deseja e
deseja algo além do que diz, algo que não se sabe bem o que é. Por mais cuidadosos que
sejamos com a nossa posição, isso é inexorável, inevitável, a presença do analista convoca
a angústia. Além disso, o analista é o suporte das projeções dos objetos a que compõem
o fantasma de seus analisantes, então, o objeto a compõem a cena analítica também
através da presença do analista. A esse respeito, Lacan (2005) observou que a estrutura
da angústia é a mesma do fantasma (14/11/62), com a diferença de que na angústia o a
está sem a cobertura imaginária do fantasma. Bem, o trabalho de análise vai desvestindo
o a, esse nada, oco, vazio que provoca a angústia. Por fim, a regra mais básica, falar em
associação livre, se levada seriamente, convoca a angústia, pois convida o sujeito à
responsabilidade e a avançar nas questões essenciais à análise e atreladas à angústia: o
objeto a e o desejo do Outro. Assim, a estrutura do dispositivo analítico provoca, no
sentido de favorecer e não de criar ou produzir, a angústia pois têm elementos comuns
em suas estruturas (a angústia e o trabalho analítico).
Insisto, não se trata de indução proposital de angústia através do analista e seu manejo
para que a análise avance. Não somos máquinas geradoras de angústia, nem se quisermos
não podemos, pois a angústia não é gerada, produzida por nada exterior, nem por
ninguém. Esse afeto é, sim, favorecido, provocado, tanto pelo dispositivo analítico em
sua estrutura, como acabo de mencionar, quanto por circunstâncias, como a atual, em que
o Real se apresenta nu e cru. Bem, o que pode acontecer é que a angústia seja provocada
em excesso de forma acidental, o que equivale a dizer que aí não há mais analista, pois
ele saiu de seu bom lugar. Por exemplo, se o dito analista passar ao ato, surtar,
enlouquecer durante uma sessão (e, observemos, não é impossível) e assim encarnar o
Real através da loucura ou se encarnar o Outro ou mesmo o objeto a que deve fazer
suporte. Fora isso, acredito que ele não tenha como “apresentar” o Real ao sujeito, porque
não há intermediário para o Real, ele dispensa apresentações. Portanto, não procede a
ideia de procurarmos “boas” intervenções que provoquem a angústia, não é possível e
não é necessário, a estrutura do dispositivo já se encarrega disso e, se somos demandados
no lugar de analistas, zelaremos para que a estrutura opere adequadamente.
Então vejam, o que o analista pode e deve fazer, além de ocupar e operar desde o seu
lugar para zelar pelo bom funcionamento do dispositivo, é intervir de forma a tentar
amenizar a angústia, tanto aquela já vivida pelo sujeito quando ele chega à análise, quanto
aquela naturalmente favorecida pelo trabalho analítico, quando avaliar que está num nível
insuportável. Assim, a meu ver, é mero imaginário, fantasia, a ideia, propagada por certos
analistas e manifestada por alguns analisantes ou mesmo em círculos socias, de que o
analista tem que ser duro, pegar pesado, ser cruel em suas intervenções, pois isso
“produziria” a angústia necessária ao movimento da análise. Isso não tem nenhum
fundamento lógico, puro imaginário, pura fantasia. Na verdade, entendo que se
ocuparmos tal posição, não há mais analista e, portanto, não há análise. O que há numa
circunstância dessas é gozo e não movimento pela angústia, gozo dos dois lados e isso
não é análise, isso obstaculiza e não movimenta o trabalho. E, companheira frequente do
gozo, haverá culpa. Esse afeto sim, a culpa, pode ser muito bem induzido por esse tipo de
postura, ou melhor, de impostura. Ela, a culpa, pode ser produzida por intervenções do
analista, pois o supereu nunca deixa a desejar quando é convocado, sabemos bem disso.
O analista deve ser preciso em suas intervenções, em seus cortes e precisão, ao contrário
de violência ou brutalidade, exige delicadeza, sutileza, e uma firmeza que advém da
tranquilidade e não da dureza, precisão cirúrgica. O que não impede que, eventualmente,
o analisante vivencie as intervenções de uma forma dura, que elas, muitas vezes, o toquem
de maneira dolorida. Mas, isso é muito diferente de o analista ter o propósito, a meta (e
mais, se regozijar com isso, gozar com o sofrimento) de inflingir dor em nome de uma
suposta técnica e/ou como resposta à demanda, até bem comum, de alguns analisantes:
“bata-me”. Ambos, supostamente, para a angústia ser “propositalmente produzida” e
gerar trabalho analítico. Não, com a psicanálise não se trata de resolver as coisas na
porrada. Isso é só mais uma ilusão para continuarmos gozando e, como analistas, devemos
estar bem advertidos disso.
Relembrando o paradoxo da angústia como possibilidade e como obstáculo para a análise,
observo que já fui introduzindo o segundo ponto, a angústia como o que pode fazer
obstáculo na clínica, a partir do que acabo de indicar sobre a necessidade de avaliarmos
o nível, o quantum de angústia e procurarmos intervir para amenizá-la, quando necessário.
O obstáculo pode se produzir exatamente se a angústia for, para o sujeito em questão,
insuportável. E obstáculo pode significar desde impasses ao trabalho (dificuldades na
fala, nas associações, atuações) até a passagem ao ato e/ou a ruptura da transferência. E
como podemos medir isso? É claro que não temos parâmetros que se generalizem para
todos e nem se trata de pensar no estabelecimento de um quantum ideal de angústia, mas
as dificuldades acima citadas, se percebidas rapidamente, podem servir de sinal, de alerta
de que o nível de angústia não está suportável. O manejo para a amenização da angústia
é muito simples, mas, como tudo na clínica, nada banal, pois, devemos operar tais gestos
e intervenções como todos os demais, ancorados em uma lógica e não ao acaso ou por um
jeito de ser: um sorriso ao chegar ou ao final da sessão, a oferta de um lenço ou a indicação
do banheiro para a pessoa se recompor antes de sair, uma observação que convoque um
chiste, uma pergunta se trouxe guarda-chuva, desejar uma boa semana, bom trabalho ou
uma boa viagem, uma sala de espera e de atendimento aconchegantes, a acolhida do
pedido de uma sessão a mais, o cuidado com o os horários, com a pontualidade… Sempre
dentro de um contexto do trabalho.
Aliás, temos vários relatos de analisantes de Lacan, está na internet e em alguns livros
também, de que ele usava exaustivamente esses recursos. Lembro agora de um relato no
qual ele põe a mão no casaco da pessoa na saída da sessão e diz de uma forma muito
amorosa: “esse casaco é muito fino para o clima que estamos meu querido, assim você
vai se resfriar!” Em outro relato ele telefona para a analisante que já faltara a seguidas
sessões e diz: “minha querida, quando voltarei a vê-la?” Ainda há vários relatos de que
ele chamava os analisantes de forma simpática e afável, quase sempre dizendo: “venha,
meu querido”. Recentemente, a coluna de Contardo Caligaris na Folha de São Paulo
(3/4/2020) trouxe mais um desses exemplos: ele conta de uma amiga que o encontrou
num café onde os analisantes e supervisionandos de Lacan se reuniam depois ou entre as
sessões, ela saiu de uma sessão absolutamente transtornada e angustiada, ficou ali
paralisada por um tempo e levantou-se dizendo que precisava voltar lá. Ele a esperou
retornar novamente, ela chegou sorrindo, aliviada, balançando a cabeça e lhe contou: “tive
uma sessão sobre os desejos mais duvidosos que pairavam sobre o meu berço; descobri
que sou filha de uma farsa sinistra. Enfim, saí da sessão péssima. Voltei para dizer a
Lacan: com a história que lhe contei, fico com a impressão de que estou fodida. E aí ele
me disse: Mas, minha querida, não é apenas uma impressão: com a história que é a sua,
você está mesmo fodida”. Enfim, são inúmeros os exemplos, o que me faz pensar ainda
mais, de onde diabos saiu essa infeliz e infundada ideia do analista lacaniano durão, rude,
violento, que bate pesado.
A guisa de conclusão, para o momento, e na direção da minimização da angústia quando
necessário, de oferecer acolhida e sustentação, além dos relatos daqueles que se
analisaram com Lacan, temos registros claros sobre isso em seu seminário sobre a
Angústia. Por exemplo, sobre o grande desafio, prova constante para o analista, que é
estar atento aos sinais e avaliar o nível de angústia que pode ser suportada por cada um:
“sentir o que o sujeito pode suportar de angústia, é o que lhes põe à prova todo instante”
(Lacan, 2005, p.15 – 14/11/62). Um pouco mais à frente (23/1/63), trabalhando sobre o
acting out, encontramos: “Em seus referenciais clínicos, observem a que ponto segurar
pela mão para não deixá-los cair é absolutamente essencial num certo tipo de relações de
sujeito. Quando se depararem com isso, vocês poderão ter certeza absoluta de que se trata
de um a para o sujeito” (p.136-37).
É isso, a angústia nos cerca por todos os lados, não há como escapar: está na estrutura do
conceito de sujeito, participa da estrutura do dispositivo analítico (horizonte), se
potencializa com o Real na cena do mundo. Na minha opinião, só encarando esse fato
podemos trabalhar de forma favorável, e reconhecê-lo implica considerar que não temos
alternativa a não ser seguir fielmente esses dois ensinamentos de Lacan: estarmos
advertidos ao desafio constante de avaliarmos o nível de angústia possível a cada um e a
cada momento (sim, para o mesmo sujeito, o nível de angústia não será o mesmo todo o
tempo!) e criarmos intervenções precisas e eficazes que sirvam como suporte, como uma
mão estendida, para não deixá-los cair.
Agradeço de coração aos que chegaram até aqui na leitura, sempre desejamos que nossas
letras sejam lidas. Mas, também registro meus sinceros agradecimentos aos que que não
puderam fazê-lo. Quiçá minha mão não tenha podido alcançá-los e segurá-los até o fim
do texto neste momento, pelos mais variados motivos!
Abril, 2020.
Zeila Torezan