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Ética e Estilo

por Mônica Maria Silva

A articulação entre ética e estilo me surgiu como um efeito da participação na última Jornada da ALPL. No ano passado, o eixo de nosso trabalho foi O discurso do psicanalista hoje, e minha apresentação se concentrou na posição do analista na sustentação da prática analítica. Foi nesse contexto que propus a seguinte questão: como o analista pode sustentar sua posição como semblante do objeto a?

Retomo aqui essa indagação para desenvolver algumas reflexões sobre a análise como via de formação do analista, explorando como esse percurso se articula com a extração de uma ética e com o estilo.

Na abertura dos trabalhos deste ano, Fabiana, em seu fórum, fez uma articulação entre ética e discurso. Ou seja, a ética da psicanálise está articulada ao discurso do analista. Penso que tanto a ética quanto o discurso estão circunscritos dentro de um campo — e campo se refere às regras, às leis que organizam o espaço.

No entanto, como também afirmaram Fabiana e Zeila nos fóruns anteriores, a ética da psicanálise não está inserida no campo da moral. Ou seja, não se trata de regras e leis que prescreveriam a conduta do analista, garantindo sua posição.

Lacan, na lição I do Seminário da Ética, faz uma referência ao seminário do ano anterior, O desejo e sua interpretação, e anuncia que irá pensar de que maneira a psicanálise pode ser uma práxis de uma ética do desejo. Ainda nesse seminário, na última lição, encontramos a seguinte frase: “A única coisa da qual se pode ser culpado é de ter cedido de seu desejo”, da qual se depreende que a ética da psicanálise se fundamenta em não ceder de seu desejo, em não ceder de sua falta. Ele afirma ainda que a experiência da análise nos conduz a um aprofundamento no universo da falta.

Com relação a essa falta, observa que não se trata de “resignar-se a perder o que não tem jeito” (Lacan,2008, p. 17). A experiência humana não se limita à moral e ao supereu, mas se localiza entre o sujeito e o desejo.

Na lição final desse seminário, ele afirma que, “como padrão da revisão da ética à qual a psicanálise nos leva, [estaria] a relação da ação com o desejo que a habita” (Lacan, 2008 p. 366). Essa ação está explicitada na pergunta que dá título à lição: “Agiste em conformidade com teu desejo?”. Ele segue afirmando que a ética da análise implica a experiência trágica da vida, e que é nessa dimensão que a ação se inscreve: “O desejo que habita a dimensão trágica da vida se exerce no sentido de um triunfo do ser-para-a-morte”.

Com a entrada do sujeito na linguagem, no suporte do significante, ele perde a possibilidade de se assegurar em seu ser; como consequência, o caráter fundamental de toda ação trágica seria um triunfo sobre a morte. O herói trágico caminha em direção à morte na busca da eternidade de seu ser. No Seminário da Transferência, Lacan afirma que é na zona entre duas mortes que se desenrola a ação trágica. A primeira morte é o desenlace da vida, que pode ocorrer por velhice, acidente, doença etc. A segunda morte não se confunde com essa; é aquela à qual o homem aspira “para se inscrever nos termos do ser”. (Lacan,1992 p.103)

A outra dimensão, a cômica, está implicada na relação entre a ação, o desejo e seu fracasso em realizá-lo. Ela é criada pela presença de um significante escondido — o falo. A escapada da vida fica escamoteada, e Lacan esclarece: “O falo nada mais é do que um significante, o significante dessa escapada. A vida passa; assim mesmo triunfa, aconteça o que acontecer. Quando o herói cômico tropeça, cai no melaço, pois bem, o sujeitinho continua vivo.” (Lacan, 2008, p. 367)

É no âmago da experiência humana que podemos reconhecer a natureza do desejo — e é também nesse âmago, em sua relação com o desejo, que uma revisão ética se torna possível. É aí que a questão “Agiste conforme o desejo que te habita?” pode ser colocada. E Lacan acrescenta: “Isso não é uma questão fácil de sustentar. Pretendo que ela jamais foi colocada de maneira mais pura em outro lugar, e que não pode ser colocada senão no contexto analítico.” (Lacan, 2008 p. 367)

Diante disso, retomo o que Zeila trouxe em seu fórum sobre a resposta que Lacan dá à pergunta kantiana “O que devo fazer?”, à qual Lacan responde apontando para a noção de extração da ética a partir de uma prática do bem-dizer. Ou seja, a ética se extrai a partir de uma prática. Com isso, quero colocar uma outra questão: como se sustentar nessa prática?

Além do trabalho da Jornada, outro realizado ao longo do ano passado na ALPL influenciou a escolha pela articulação que se apresenta no meu título. Trata-se do dispositivo denominado “O analista na escola”. Foi uma proposta de trabalho interno cujo objetivo era “criar, para os associados da ALPL, um espaço de trabalho sobre temas relativos à instituição/escola de psicanálise”. Durante esses encontros, e em decorrência dos textos que estávamos trabalhando, surgiu a questão sobre a oferta, por instituições de ensino, de cursos de graduação em psicanálise como opção para a formação de analistas.

Tais ofertas geralmente vêm acompanhadas de uma garantia quanto à titulação — ou seja, ao concluir o curso, o aluno se tornaria analista. Uma das questões levantadas foi justamente sobre a ética. Como postulado anteriormente, a ética se articula a um campo discursivo, e penso que tais formações se sustentam em outro campo: o campo do mercado de consumo, que se fundamenta no saber como mercadoria a ser consumida, com a possibilidade de acúmulo de saber na forma de conhecimento. Diante disso, penso que a ética que pauta um trabalho sustentado por essa via de formação seria a do mercado de consumo — uma via prescritiva, em que as regras e leis do mercado ditam o que se deve ou não fazer. A ética da psicanálise é outra coisa, e a formação do analista também.

Cito uma passagem de Lacan da primeira lição do Seminário 7, também mencionada pela Zeila em seu fórum:“A questão ética, uma vez que a posição de Freud nos faz progredir nesse domínio, articula-se por meio de uma orientação do referenciamento do homem em relação ao real. Para conceber isto, é preciso ver o que ocorreu no intervalo entre Aristóteles e Freud.” (LACAN, 2008, p.23)

Acompanho o que a Zeila apontou sobre o deslocamento da questão ética entre Aristóteles e Freud: do referenciamento na razão e no bem, para o referenciamento no real. Mas fiquei pensando também no que Lacan afirma sobre não podermos evitar uma certa investigação do progresso histórico — ou seja, como, no contexto histórico, o homem se defende dos efeitos do real. Penso que isso se articula com a advertência feita por Lacan de que:“Deve renunciar à prática da psicanálise todo analista que não consegue alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época.”
(Lacan, 1998, p. 321)

Pensei também nisso porque, na sequência, Lacan adverte para a importância de se ler o texto de Freud O mal-estar na civilização, e no que foi levantado na discussão após a apresentação do fórum da Zeila — pontos que também foram trazidos por ela — sobre, por exemplo, o fato de a psicanálise ter demorado muito tempo para se ocupar de temas que outras áreas, como a psiquiatria, já estavam abordando. Temas que, a meu ver, apontam para o mal-estar de uma época — isto que Lacan assinala como a investigação do progresso histórico.

Penso o progresso aqui não como evolução ou desenvolvimento, mas como um seguir de percurso. Além do mais, não poderíamos pensar em evolução, pois, como assinala Lacan, não existe essa tal evolução: não temos como eliminar as perdas produzidas nesse percurso. Starobinski (2001), em seu livro As máscaras da civilização, reconstrói a história da palavra “civilização” no contexto da França dos séculos XVII e XVIII, e faz uma crítica à utilização da linguagem e dos argumentos das convenções sociais que levaram a mal-entendidos, contradições e ambiguidades. A defesa de que a civilização poderia reduzir ou superar o mal-estar e levar ao progresso da humanidade mascara o que ela promove como engano, falsidade e legitimação de formas de violência e opressão — sendo, assim, a fonte de muitos males. Precisamos ter um olhar crítico para essas questões e um cuidado para não dessexualizá-las na escuta clínica. Acompanhando Tysler (2014) no que ele propõe como fantasma social, podemos pensar em como, no contexto histórico, o homem se defende dos efeitos do real, uma vez que o sujeito se serviria do fantasma social para dar consistência ao seu próprio fantasma.

Retomo o referenciamento do homem em relação ao real e a questão ética articulada a isso, para pensar que a prática da qual se extrai a ética é a da análise. Disto podemos depreender o ponto sustentado desde Freud de que a formação do analista se dá em sua própria análise. Freud já afirmava isso nas diversas vezes em que foi questionado sobre como alguém pode exercer a psicanálise. Ele nunca disse para estudar psicanálise, ler seus livros ou acompanhá-lo em reuniões de estudo; mas sim que, para se sustentar nessa posição, deve-se passar pelo trabalho com o próprio inconsciente. Não é na universidade que se forma um analista. Que outra via possibilitaria o referenciamento do homem em relação ao real? Não seria a via da compreensão, do entendimento, do saber como forma de conhecimento — mas penso que, em relação ao real, só existe uma via possível: a da experiência no percurso de uma análise.

A ética se extrai da prática, e a prática se sustenta na passagem do analista por sua análise — donde decorre o seu estilo. Podemos pensar o estilo como um “jeito de fazer”; porém, considero que o “jeito de fazer” é um efeito do estilo. Lacan (1998) fala sobre o estilo em seu texto de abertura dos Escritos. Ele faz referência à afirmação de Buffon: “O estilo é o homem.” Na acepção deste autor, o estilo faz referência “à individualidade do autor, ao gênio e à imortalidade” (Porto & Vieira, 2019, p. 7). Nas palavras de Buffon: “O estilo é o próprio homem. O estilo não pode, pois, nem arrebatar-se, nem transportar-se, nem alterar-se: se for elevado, nobre, sublime, o autor será igualmente admirado em todos os tempos.” (Buffon, 1753/2011, p. 11–12 in Porto & Vieira, 2019, p. 8)

Ao se servir da frase de Buffon para abrir seu texto, Lacan afirma que o homem não é uma referência segura, e diz que Buffon se adorna de uma roupagem. Penso aqui nessa completude imaginária do ser do homem que exclui o sujeito.

Na sequência, Lacan lança uma questão: “O estilo é o homem: vamos aderir a essa fórmula, somente ao estendê-la: o homem a quem nos endereçamos?” (Lacan, 1998, p. 9)

Quando Lacan lança a pergunta sobre o endereçamento, podemos considerar que é ao Outro que o sujeito endereça sua questão em uma análise. Ele busca, nesse lugar de suposto saber, uma resposta para seu sofrimento. A questão “O que o Outro quer de mim?” surge porque, estando o sujeito inserido na linguagem, a mensagem vem do Outro — e Lacan acrescenta: “(...) e para enunciá-la até o fim de forma invertida” (Lacan, 1998 p. 6). Demanda e desejo se articulam. Ao endereçar sua divisão ao analista, o sujeito espera uma resposta; a presença do analista incita a pergunta. A boa posição do analista depende de sua passagem pela experiência da análise.

No final deste texto, Lacan responde à pergunta colocada de saída sobre o endereçamento: “É o objeto que responde à pergunta sobre o estilo que formulamos logo de saída.” (Lacan, 1998, p. 11)

O analista, advertido de que esse movimento não é orientado por um único vetor (o da demanda), compreende que a articulação dessa pergunta também vetoriza o desejo — e que, no centro, como um atrator estranho, está o objeto a. Esse posicionamento do analista Lacan formaliza no discurso do analista, em que ele, no lugar de agente, está como semblante de a — e não vestindo o a. Ao sustentar essa posição, o analista se coloca o mais distante possível desse objeto, permitindo que o analisante efetue o trabalho de interrogar sua posição de sujeito do desejo em relação à sua posição de gozo, nas voltas pelos desfiladeiros da demanda, até que isso caia. Sustentar essa posição não é fácil — e Lacan observa: “E é por isso que é melhor que ele tenha passado por aí, na análise didática, que não pode estar certa senão por não ter sido engajada desta maneira.” (Lacan, 2011, p. 117)

Cruglak (2021) lembra que a falta radical não tem cura. O percurso de uma análise possibilita o movimento das voltas — ou revoluções — que se pode dar. O fim de análise, segundo Lacan, “é quando se girou duas vezes em círculo, isto é, se reencontrou isto ao qual se está prisioneiro” (Lacan, 1968, in Cruglak, 2021, p. 146). A autora acrescenta: “girar duas vezes, ou o número suficiente de voltas” (p. 146) — não para se curar da falta, mas para se confrontar com a dimensão dessa verdade incurável.

Vou me deter um pouco mais nesse giro para pensar a relação do que se produz a partir dele como estilo. No Seminário 20 (Mais, ainda), Lacan (2010) afirma que “o que gira — é isso que se chama revolução — destina-se, por seu próprio enunciado, a evocar o retorno” (p. 112). Observa que a importância da revolução copernicana não foi o descentramento da Terra em relação ao Sol; a importância não está no centro, mas no movimento elíptico. E acrescenta: “A subversão, se ela existiu em algum lugar e num dado momento, não consistiu de modo algum em ter mudado o ponto de virada do que gira; foi em ter substituído o ‘isso gira’ por ‘isso cai’” (p. 112). Girar para deixar cair — penso na queda do objeto a partir do seu recorte.

De acordo com Porge, “o estilo é aquilo por meio de que se punciona a relação do sujeito ao objeto” (2010, p. 69, in Costa, 2014, p. 504). O autor observa que a palavra estilo tem sua origem no latim stilus; dela derivam tanto o nome de instrumentos de corte como de escrita, uma vez que tais instrumentos eram utilizados para escrever. Sua raiz sti está ligada à punção, que é um instrumento que serve para perfurar e marcar.

Sirvo-me de Costa (2010) para pensar esse trabalho de recorte do objeto no final de análise. Segundo o autor, esse trabalho pressupõe o rompimento dos laços com o Outro e a possibilidade de estabelecer um lugar singular para si. Sobre esse rompimento dos laços com o Outro, faço referência a Cancina (2004), entendendo esse rompimento como produtor de buraco no Outro — ou, dito de outro modo, que rompe com o sentido encobridor da falta. A autora traz a seguinte citação de Lacan:
“... não se trata de compreender, de mordiscar o sentido, mas de rasurá-lo o máximo que se puder sem que se faça ligação para essa virtude, gozando da decifração, o que implica que o gaio saber não produza, ao final, mais que a queda, o retorno ao pecado” (Lacan 2003, in Cancina, p. 215).

O estilo, penso, teria relação com como, no final da análise, o sujeito, ao não retroceder ao real, pode alcançar o bem-dizer. A afirmação de Lacan de que o analista se autoriza por si mesmo se sustentaria como efeito desse trabalho. E a sequência dessa afirmação — “e por alguns outros” — faz referência também à transmissão, que, em psicanálise, não é possível sem colocar algo de si, e por isso é sustentada no estilo de cada um.

Ao final do meu trabalho, chamo a atenção para a frase de Lacan (1998), no texto de abertura dos Escritos:
“Queremos, com o percurso de que estes textos são os marcos e com o estilo que seu endereçamento impõe, levar o leitor a uma consequência em que ele precise colocar algo de si” (p. 11). Para mim, isso diz da ética e do estilo de Lacan.

Muitos pontos ainda estão em aberto para mim e me convocam a pensá-los. Cito alguns:

Karin de Paula (2008):
“Se considerarmos que o desejo em ato, que comparece encenado na tragédia, possa se estabelecer como ato de enunciação na constituição de uma nova forma de laço social, estaria lançada a perspectiva de que tenhamos nos servido do trágico do desejo para refazer uma aposta na vida, ao considerá-la finita, mas possível, e até com certa graça” (p. 98).

 

A partir daqui, introduzo o que pude produzir após a apresentação do fórum e o debate que se seguiu.

Sobre a frase de Lacan — “A única coisa da qual se pode ser culpado é de ter cedido de seu desejo” — como ficaria o desejo do analista? O desejo do analista é o quê?

Penso que são dois conceitos diferentes: o desejo e o desejo do analista. Entendo o desejo do analista como um operador clínico, que diz da posição do analista na condução de um trabalho de análise. Um operador que se refere ao analista ter que abdicar de seu ser e suspender seu gozo.
E, nessa frase, a afirmação de Lacan se refere ao conceito de desejo. Não ceder de seu desejo seria não ceder de sua falta, de sua condição de sujeito e, portanto, de sua diferença. Penso que não se trata de abdicar de seu ser, nem de suspender seu gozo, como no operador "desejo do analista". Também não se trata de uma obrigação, de uma imposição, pois, se assim fosse, estaria relacionada à moral e ao supereu. Esse foi outro questionamento da Maria de Fátima: sobre a experiência humana não estar limitada pela moral e pelo supereu, mas se localizar entre o sujeito e o desejo.

Outro ponto que a Maria de Fátima pediu para que eu falasse mais foi sobre o trágico e o cômico.
Lacan afirma que a tragédia se inscreve no espaço entre-duas-mortes. No seminário da ética, ele trabalha sobre isso na última lição, que tem como título a pergunta: “Agiste em conformidade com teu desejo?”

Sobre as duas mortes: a primeira se refere ao fim da vida. Quanto à segunda, Lacan afirma que “o homem aspira a aniquilar-se para se inscrever nos termos do ser”, ou seja, superar a finitude na afirmação do desejo.
Pensei essa dimensão em relação à realização do desejo, que levaria a um apagamento do sujeito, a um amortecimento — não como morte física, mas como “morte subjetiva”, aniquilação da falta.
Com a entrada do simbólico, perde-se a possibilidade de se inscrever nos termos do ser: não temos uma essência na qual o sujeito poderia se afirmar. Pensei se a via da realização do desejo não seria essa busca pela inscrição nos termos do ser.

Sobre a dimensão cômica, Maria de Fátima questionou se, nessa frase — “A outra dimensão, a cômica, está implicada na relação entre a ação, o desejo e seu fracasso em realizá-lo” —, não seria, na verdade, o sucesso em não realizá-lo. O fracasso se refere à ação, ou seja, a ação fracassa em realizar o desejo. Lacan afirma que o cômico é criado pela presença do significante falo, que escamoteia a escapada da vida.
Não se trata de suplantar o lado trágico da existência. Não seria considerar o trágico como “ruim” e o cômico como “bom”; ambos fazem parte da existência. Retirar um seria amputar a vida de alguma de suas dimensões.
Trouxe essa passagem para pensar em como deve ser considerada a ética na relação com o desejo, considerando a dimensão tragicômica do desejo. Penso que é aí que a questão “Agiste em conformidade com teu desejo?” deve ser colocada.

Outra questão que a Fabiana levantou foi sobre se é possível pensar em uma ética sem o estilo, e se ética e estilo teriam a mesma função. Para ela, poderíamos pensar também na extração do estilo, assim como na extração da ética. São pontos que ficaram em aberto, e agradeço por terem sido levantados.

A Zeila também contribuiu com um aspecto que está sendo trabalhado por Clara Cruglak no seminário que ela está realizando e que a Zeila está acompanhando. Se acompanharmos a afirmação de Lacan, que está no texto dos Escritos, de que o estilo é o objeto, teríamos que acompanhar como, ao longo de sua teorização, a relação com o objeto foi se modificando. Nesse texto, o estilo pode estar relacionado com a queda do objeto. Mas, se seguimos o que ele trabalha no Seminário 19, o objeto, na cadeia borromeana, se relaciona com o efeito de sentido, com o efeito de nó de sentido. E que a frase “Eu te peço que recuses o que te ofereço, porque não é isso” tem efeito de enodamento, de enlace, e que o efeito de nó de sentido está no “não é isso”.
Agradeço por essa contribuição, e reconheço que, ao pensar na relação do estilo com o objeto, não fui rigorosa em acompanhar as modificações teóricas de Lacan ao longo dos anos. Com relação ao objeto a, fiz referência, por exemplo, ao Seminário 20, mas sem considerar essas modificações. Acredito que é um caminho possível para continuar trabalhando sobre essa questão.

Obrigada pela escuta atenta e pelas contribuições.

 

 

 

Referências:

CANCINA, Pura H. Fadiga Crônica – neurastenia: as doenças da atualidade. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2004.

 

CRUGLAK, Clara. Lo real a la huela: en la experiencia psicoanalítica. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Escuela Freudiana de Buenos Aires, 2021.

LACAN, Jacques. Seminário 7: a ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

LACAN, Jacques. Seminário 8: a transferência. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.

LACAN, Jacques. Função e campo da fala e da linguagem. In Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

LACAN, Jacques. Abertura desta coletânea. In Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

LACAN, Jacques. ...Ou pior. Seminário XIX 1971-1972. Salvador: Espaço Moebius 2011 (publicação não comercial).

PAULA, Karin de. Do espírito da coisa: sobre o percurso de uma psicanálise. São Paulo: Escuta, 2008.

STAROBINSKI, Jean. As máscaras da civilização. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

TYSLER, Jean-Jacques. O fantasma na clínica psicanalítica. Recife: Ed.Association Lacnienne Internationale, 2014.

 

COSTA, André Oliveira. Os tempos da transmissão segundo a lógica de Lacan. Estilos clin.,  São Paulo ,  v. 19, n. 3, p. 499-514,  dez.  2014 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-71282014000300008&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  18  maio  2025.  https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v19i3p499-514.

 

PORTO, Marinela Marques; VIEIRA, Marcus André. Do homem ao objeto: um percurso pela noção de estilo em Jacques Lacan. Analytica,  São João del Rei ,  v. 8, n. 15, p. 1-25,  dez.  2019 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2316-51972019000200002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  18  maio  2025.

 

 




Texto apresentado no Fórum da Associação Livre Psicanálise em Londrina em 26/05/2025.

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